sábado, 26 de junho de 2010

Clube

Dias desses, em umas das subidas rotineiras noturnas à montanha,
me deparei com uma casa de madeira meio casebre, no cume, perfazendo um castelo. Havia muito nevoeiro ao redor. Decido seguir a trilha sinuosa que levara até a entrada. Pelo caminho latiam vira-latas sarnentos, do meio mato javalis selvagens batiam os dentes e grunhiam, vacas com aftosa batendo sinos cruzavam o caminho...
Chegando na entrada, dava para ler na porta marcas de letreiros que já ali não estavam: "Clube dos Que Vagam, Ano III". Adentrando no recinto, uma voz de um senhor ao fundo, sentado ao chão com as pernas cruzadas, usando vestimentas longas, desgastadas e em uma espécie de rito, talvez para si mesmo, não visualizei ninguém ao redor. Anunciava em voz alta com algumas alternações de entonações, com momentos de desabafo:

"Muitos imaginam viver a intensidade de um sonho.
A maioria apenas dormirá sonhando.
Tantos terão medo do que pode vir, sem ao menos tentar.
Afinal, quem lhes impede se não vocês mesmos?
Mas para ti, já lhe adianto. Se conseguir chegar,
alguns momentos acharas que estás em pesadelo,
pois não encontrarás ninguém ao redor.
Do que adianta viver sonhando, enquanto todos dormem sonhando.
Portanto, pare de me seguir. Minha solidão agradece."

Nesse momento o senhor se ergue, abre os braços e olha para cima, durante os vinte minutos que permaneci ali. Decido me retirar sem ser notado. Sai pela mesma porta, no que agora eu leio: "Clube dos Que Sonham, Ano I".

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